domingo, 2 de dezembro de 2012

- Toda semana uma mulher vinha gritar meu vizinho no portão, freneticamente e tirando a todos do sério. Ninguém aguentava mais ouvir a voz dela, bastava o primeiro grito e todos já sabiam que não seria possível ter paz por pelo menos trinta minutos. Ela ficava ali, se esgoelando, não sabia a hora de parar e o vizinho, poucas vezes e nunca sem demora, atendia a moça. E eu pensava "Que mulher imbecil, ou ele não tá em casa ou não quer atender, que inferno. Surdo ele não é." Simples pra mim, pro meu vizinho que não atende, mas não pra moça que gritava. Esses dias, reparei que ela anda sumida, desistiu, eu acho. Uma hora todo mundo entende, todo mundo cansa, todo mundo mesmo. E quantas moças fazem isso por aí, todos os dias, ainda que sem grito e sem portão? Pular a janela, sem ser bem vinda? A verdade é que o outro tem que estar disposto a receber e eu não tô me referindo só à visita. Não adianta empurrar tudo que você tem pra dar, goela a baixo, se ele vomita quando você vai embora. Não adianta se convencer de que o outro não tá te ouvindo, se ninguém num raio de mil quilômetros, suporta mais seus escândalos. Nem você. E desistir não é uma opção, é a única. Ela foi lá á toa, é chato, eu sei. E tem que ir embora sem nem tomar um copo d'água. Mas é o melhor a ser feito e, no fundo, ela sabe também. Sabe que, afinal, é bem melhor perder a viagem do que a voz.!

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