- Porque é
mais difícil do que parece, foi na minha infância e é a minha vida
inteira. Sou eu cheia de traumas e me descabelando sempre, meio anormal e
neurótica... É quando eu me pego sempre no meu autocontrole idiota, são
as unhas roídas e eu me escondendo dentro da casca que eu criei de
morada. E todos riem e fazem críticas de quanto sou desajeitada pra
vida, pro amor, pro sexapio Sou eu sempre nervosa derrubando a caixinha
de fósforos que cai debaixo do fogão e eu ajoelhada catando um por um.
Tenho um equilíbrio que não existe e que me faz sempre ser essa menina
que nunca cresceu... Porque a vida toda eu criei a minha imagem que no
fundo só me enlouqueceu. Minha mente arde e minha dor dói mais do que
você vê. Acabei ficando boa nisso tudo de aparências e nada de encantos.
Quero me encolher debaixo da minha muralha. Eu e a minha loucura e
preocupação que tenho com tudo, da qual não me orgulho. Eu vou ser
daquelas velhas com mil gatos tremendo de medo quando alguém segurar a
minha mão pra atravessar a rua. A minha paranoia e a minha infelicidade
que se confundem com a minha tristeza e as minhas mil maneiras de querer
cuidar de tudo e todos e proteger as crianças e proteger o amor que
sinto e me proteger.
E o meu medo da vida, de pegar sol, de prender o dedo na porta do carro e
de perder a hora. E essa minha tristeza que um dia só quis pegar a sua
mão que me fazia feliz por ser leve e me tirar o peso e a
responsabilidade de ser eu. Eu séria, eu estática, eu chorona, eu dentro
do meu quarto. Eu preciso de muita força e muita psicologia pra me
sustentar em cima dos meus sapatos. E os meus olhos assustados e meu
medo de estar ali e de sorrir nervosa, perdi a minha sensualidade e
perdi as melhores coisas da minha idade. É difícil, mais difícil que
parece. É triste ter que beber pra se sentir a vontade e ver o
mundo girar de tanta vontade e o estômago embrulhar quando eu lembrar
que vai passar. A frieza paranóica e essa minha agonia que
poucos atraem me fez distante, desequilibrada e sempre
preocupada...desde os palitinhos de fósforos, que se perderam debaixo do
fogão, até o amor que eu tive, que nada mais me fazia do que provocar
minhas mãos trêmulas, que ou te seguravam ou me mantinham em pé
segurando a barra da escada que, se eu soltasse, ia me fazer rolar e
vomitar todos os calmantes e esfolar os joelhos e quebrar a coluna...
O vento soprando e eu segurando os cabelos loiros e finos que eu não
quero que se assanhem. Tudo é problema: chuva, sol, emoções e o prédio
que eu criei mofando e balançando, querendo desmoronar. Eu me desfiz dos
quadros e das paredes, das cores e das fotos pra não tombar. Olhe pro
meu medo e sorria... É fácil me criticar quando se tem a escolher a
sobrevivência e você.
Você não sabe o que é ter mentido tanto sobre si que acabou virando
mentira. Você não sabe que a única coisa que flui naturalmente em mim
são as lágrimas que saem costumeiramente e diariamente dos meus olhos e
nem sabe o que é se segurar pra o buraco negro te sugar. Você não
imagina o que é pular de um lado pro outro pra não cair dentro de algo
chamado depressão. Parece tão fácil não é? Acredite, arder em febre e
não sentir calafrios é como eu me sinto. É culpa por tudo, é desculpa por tudo, é nunca ter tudo. Eu me escondi e acredite: eu me esqueci e não sei mais onde me achar.
São os meus mil cremes anti-rugas aos "22" anos e a minha nóia com o
amanhã, que não me faz mover nem os dedos dos pés. Eu não quero ser
sarada e nem loira demais e nem parecer bonita e nem parecer feia. Eu
tenho medo de decepcionar todos e sempre acho que vou levar uma bronca,
uma surra, uma tapa, um chute de alguém. Eu vivo com medo de ser
espancada por besteiras e pela vida, nunca tomo nada demais e nem nada
de menos pra não parecer, aparecer, perecer. Me mantenho numa frequência
contínua e sem emoção que me faz ter vontade de me jogar no chão e
quebrar todas as vidraças e quem sabe me cortar e quem sabe sangrar, mas
isso ia causar dor a quem me arrodeia e eu nunca faria isso.
Em que parte o meu amor ficou, ficou na parte do medo e do meu suor e de
eu não querendo me entregar pra parecer sã, boa, santa, correta. Quando
a gente usa corretivo demais a gente esquece onde ficou a caneta e não
consegue mais escrever sequer um ditado de vogais pra nossa vida.!